Deus S.A Crente ostentação
Deus S.A.: O Crente e a Ascensão Material nas Igrejas Pentecostais
No mundo contemporâneo, as religiões, em especial as igrejas pentecostais, têm evoluído de maneiras que desviam significativamente da essência do ensinamento cristão original. O cristianismo, ancorado no amor incondicional e na fraternidade universal ensinados por Cristo, parece dar lugar a um movimento que privilegia a ascensão material, o sucesso financeiro e o culto a uma prosperidade mundana. O fenômeno pode ser interpretado como a corporatização da fé, onde a igreja se transforma em uma espécie de empresa — Deus S.A. — e o crente, em um sócio-investidor que busca retorno não apenas espiritual, mas material.
A Pirâmide Pentecostal: Network de Ascensão Material
As igrejas pentecostais, em especial, têm se mostrado eficazes em criar redes de relacionamento que promovem a prosperidade de seus membros, muitas vezes seguindo uma lógica de ascensão que lembra esquemas de pirâmide. Nesse sistema, milhares de fiéis congregam em torno de uma liderança que promove a ideia de que a prosperidade financeira é uma bênção divina. O crente que se destaca, ascende dentro da comunidade, com o apoio explícito de seus pares, o que reforça a noção de que o sucesso material é um sinal de fé e favor divino.
Esse modelo é eficaz porque funciona de maneira semelhante a redes de networking empresariais. Quanto mais pessoas se engajam, mais rápido um indivíduo pode ascender. A comunidade oferece suporte mútuo, mas também cria barreiras de acesso, priorizando seus próprios membros em detrimento de outros grupos religiosos ou sociais. Como em qualquer organização fechada, a lealdade é crucial, e a ascensão só ocorre dentro dos limites da própria igreja. Ou seja, o crente, embora se veja como “nascido em Cristo”, na realidade nasce para uma nova lealdade que, muitas vezes, é mais ligada à sua comunidade específica do que ao ideal cristão universal.
Prosperidade Material versus Amor Incondicional
Cristo pregou o amor incondicional, o desapego material e a fraternidade universal. No entanto, nas igrejas pentecostais contemporâneas, observa-se uma inversão desses valores, onde a prosperidade financeira é exaltada como sinal de bênção divina. A mensagem central dessas igrejas é muitas vezes baseada na “Teologia da Prosperidade”, onde a riqueza e o sucesso material são vistos como recompensas diretas da fé e da doação à igreja.
Esse paradigma cria uma ética religiosa onde o sucesso material se torna uma métrica de fé, e o amor ao próximo, como proposto por Cristo, se enfraquece. O foco no indivíduo, em sua ascensão pessoal e em seu sucesso financeiro, obscurece a mensagem de compaixão e justiça social que é o coração do Evangelho.
A Comunidade Fechada: Uma Nova Máfia?
Ao criar um sistema onde o sucesso está intrinsecamente ligado à participação na comunidade, as igrejas pentecostais formam o que podemos chamar de “sociedades fechadas” ou, de maneira mais crítica, “máfias espirituais”. Esses grupos mantêm uma estrutura piramidal, onde poucos ascendem com o apoio dos muitos que os sustentam. A igreja, nesse sentido, age como uma corporação que seleciona, promove e legitima aqueles que melhor se adequam aos seus objetivos materiais.
Isso não significa que o fenômeno em si seja inerentemente ruim ou negativo. Muitas vezes, essas comunidades oferecem apoio emocional, espiritual e até material a seus membros, criando uma sensação de pertencimento e propósito. No entanto, a questão crítica é o que está sendo priorizado: a verdadeira fraternidade e compaixão cristã ou um sistema de promoção pessoal que opera de acordo com lógicas mercantilistas?
Deus S.A.: O Novo Mercado da Fé
O que emerge desse contexto é uma nova dinâmica de fé onde Deus se torna uma espécie de marca, e a igreja, um mercado. O crente não está mais em busca apenas de salvação ou conexão espiritual, mas também de oportunidades de networking, crescimento financeiro e status social. O ato de crer, então, é inseparável da expectativa de retorno material, criando uma mentalidade onde o sucesso terreno é visto como um reflexo direto da fé.
Esse fenômeno pode ser problemático, pois desloca o foco do cristianismo das virtudes espirituais para o sucesso material. No lugar de uma fé baseada na simplicidade, no amor e na solidariedade, surge uma fé empresarial, onde cada crente se torna um investidor em busca de dividendos espirituais e financeiros.
Considerações Finais
A crítica aqui proposta não é necessariamente à existência de comunidades religiosas organizadas, mas sim ao desvio de suas práticas e valores em relação ao ideal cristão original. O “Deus S.A.” revela uma face da religiosidade moderna onde a ascensão material, embalada como bênção divina, se torna o verdadeiro objeto de culto. A fé, assim, se transforma em uma espécie de commodity, e o crente, em um participante de uma rede de interesses econômicos, mais do que espirituais.
Este fenômeno traz à tona questões complexas sobre a verdadeira natureza da fé e seu papel na sociedade contemporânea. Afinal, estamos realmente seguindo os ensinamentos de Cristo ou apenas participando de um novo mercado de promessas materiais?
Albert Ramos
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