De elogios à crítica



   

Até recentemente elogiava a condução do Sr. Celso Amorim na política internacional do Brasil, especialmente durante os governos anteriores do Partido dos Trabalhadores. No entanto, hoje retiro meu elogio e apresento uma crítica. Acredito que ele esteja sendo mal assessorado ou, pior ainda, sua visão internacional está comprometida. Não sei se é o ego que o domina, como no filme "O Advogado do Diabo", onde o capiroto diz: _o melhor pecado é a vaidade; todos cai nele. Talvez seja o caso de Amorim, que agora atua como fiscal de urnas em país estrangeiro, questionando até mesmo a autoridade da Suprema Corte deste país. Assim, fica insustentável. Pior ainda, na posição de assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele está, a meu ver, induzindo o presidente ao erro que no futuro próximo isso irá certamente voltar-se contra o Sr. lula que não percebe a cilada que entrou.


 O direito internacional é um dos pilares da convivência pacífica entre as nações, sustentado pelo respeito à soberania e à autodeterminação dos povos. Cada país é responsável por seus próprios processos internos, sejam eles eleitorais, jurídicos ou administrativos. Contudo, ao longo dos anos, temos visto que essa linha tênue entre respeito e interferência externa tem se tornado cada vez mais borrada. Quando um país se dá o direito de questionar o sistema de outro, ele abre um perigoso precedente: o direito de ser, ele próprio, questionado. E essa é uma faca de dois gumes.

 

A atual atuação do Sr. Celso Amorim, como assessor de política internacional do governo Lula, ao se envolver com questões como a fiscalização de urnas em outro país e o questionamento do sistema judiciário, parece estar indo justamente nessa direção perigosa. No afã de exercer um papel de “fiscal da democracia global”, o governo brasileiro pode estar, sem perceber, fragilizando sua própria posição no cenário internacional.


  Ao questionar a legitimidade de outros sistemas, o Brasil está convidando, mesmo que indiretamente, o mundo a olhar para seu próprio sistema com olhos de desconfiança. E não é difícil imaginar um cenário em que, nas próximas eleições presidenciais, a direita brasileira, hábil em manipular narrativas, use exatamente esse flanco aberto para questionar o resultado das urnas em 2026. Com um resultado potencialmente apertado, as acusações de fraude, amplificadas pela mídia e pelas redes sociais, poderiam criar um ambiente de instabilidade política que colocaria a própria democracia brasileira em xeque.


  E o que seria pior: os mesmos países que foram alvos de críticas e questionamentos por parte de representantes brasileiros poderiam agora se sentir no direito de fazer o mesmo, vindo ao Brasil exigir explicações, inspecionar resultados e questionar a legitimidade do pleito. A interferência externa, uma vez permitida, torna-se uma porta de entrada para que interesses estrangeiros tentem moldar o destino político do país.


  Portanto, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva parece estar, sem perceber, entrando em uma armadilha. Ao apoiar ou sugerir intromissão em assuntos internos de outras nações, ele corre o risco de criar um precedente perigoso para o futuro do Brasil. A soberania, tão defendida em discursos, é ameaçada na prática. E, até o momento, parece não haver uma clara percepção desse risco.


 A saída desse imbróglio requer um reposicionamento estratégico. É necessário resgatar o papel tradicional do Brasil como um mediador equilibrado, alguém que valoriza o diálogo multilateral sem se comprometer com interferências desnecessárias. Se há algo que a história ensina, é que a política internacional é um jogo de sutilezas, e qualquer movimento em falso pode resultar em consequências difíceis de reverter. O governo brasileiro, portanto, precisa acordar para o fato de que, ao se intrometer, está, simultaneamente, abrindo mão de sua própria proteção.

Albert Ramos


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