Auto-racismo
Aspecto Histórico e Sociológico
Historicamente, a sociedade ocidental foi construída sobre estruturas de poder que privilegiaram as pessoas brancas e marginalizaram as pessoas negras. A colonização e a escravidão deixaram marcas profundas nas relações raciais, o que perpetuou um modelo onde a cultura, a estética e os costumes brancos passaram a ser idealizados como superiores.
Quando uma pessoa preta ascende financeiramente e se vê em espaços onde a maioria das pessoas bem-sucedidas são brancas, pode haver uma pressão inconsciente (ou até mesmo consciente) para se adequar aos padrões estéticos e culturais dessas elites. Essa "adequação" pode ser vista em mudanças na aparência, como alisamento de cabelo ou tingimento de loiro, que são símbolos historicamente associados a padrões de beleza eurocêntricos.
Psicologia e Identidade
A identidade racial é uma construção complexa que envolve a percepção de si e a internalização de mensagens sociais. Pessoas pretas, ao longo da vida, podem ser expostas a mensagens explícitas ou implícitas que desvalorizam sua cor, enquanto exaltam características associadas à branquitude. Isso pode criar um conflito interno, onde a pessoa preta, ao alcançar sucesso, sente que precisa se distanciar de suas raízes e adotar traços que lhe conferem maior "aceitação" no meio elitizado e majoritariamente branco.
Esse processo pode ser compreendido à luz da "dissonância cognitiva", um conceito da psicologia que descreve o desconforto mental que surge quando uma pessoa tem crenças conflitantes. Uma pessoa preta que ascende e entra em ambientes de poder predominantemente brancos pode experimentar essa dissonância entre sua identidade racial e os padrões de sucesso que a sociedade projeta como "normais". Como resultado, pode tentar minimizar ou esconder aspectos de sua identidade preta para se sentir mais confortável ou aceito.
Auto-racismo
O auto-racismo, ou racismo internalizado, é uma consequência direta de viver em uma sociedade onde a branquitude é colocada como o padrão a ser atingido. Pessoas pretas podem, inconscientemente, absorver esses padrões e começar a rejeitar aspectos de sua própria cultura e aparência. Isso pode ser percebido nas escolhas estéticas, como mencionado, e também em declarações e posicionamentos políticos que, para alguns, podem parecer contraditórios em relação à própria experiência racial.
A fala de uma pessoa preta que se identifica como "preta de direita" e defende isso publicamente, por exemplo, pode ser vista por muitos como um reflexo desse auto-racismo. Isso não quer dizer que não se possa ser preto e de direita, mas a questão é mais profunda: trata-se da dificuldade que muitas pessoas pretas enfrentam para reconhecer a própria luta racial e como ela se insere no contexto mais amplo das desigualdades estruturais.
Influência dos Padrões de Beleza e Poder
A ascensão financeira, especialmente pela fama, coloca a pessoa em um novo círculo social. Muitas vezes, para sobreviver nesse novo espaço, há uma necessidade de se adaptar aos padrões de beleza, comportamento e pensamento desse grupo, que geralmente reflete os valores da elite branca. A estética e os comportamentos que antes eram parte da cultura negra podem ser vistos como "inapropriados" ou "menos sofisticados", levando a uma tentativa de assimilação a esses padrões eurocêntricos.
O Papel da Mídia
A mídia também tem um papel importante na disseminação desses ideais. Muitas celebridades pretas são constantemente expostas a uma imagem dominante da branquitude como símbolo de sucesso e beleza. A pressão midiática, somada à pressão social, cria um ciclo em que a aceitação pessoal e profissional parece depender da conformidade com esses padrões.
Conclusão
Em suma, o fenômeno descrito envolve uma mistura de auto-racismo, pressões sociais, e a busca por aceitação em espaços historicamente dominados por pessoas brancas. A ascensão financeira e a entrada em círculos elitizados podem aumentar essas pressões, levando a comportamentos e declarações que refletem uma internalização de normas eurocêntricas. Compreender essas questões é essencial para enfrentar os desafios de reafirmação da identidade preta em um contexto de desigualdade racial histórica e estrutural.
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