Arcanjo Caído
O Paradoxo da Ascensão e a Crise de Identidade:
Quando o Preto se Torna o Explorador
A figura de um sujeito preto, que ocupa uma posição de destaque dentro de um partido político em uma cidade mineira, é carregada de ironias históricas, sociais e psicológicas. Ele, presidente do movimento preto de uma grande legenda, poderia simbolizar o triunfo sobre séculos de opressão racial. Mas, ao contrário, sua trajetória revela uma perversidade profunda: o auto-racismo e a exploração brutal de sua própria classe.
Este homem, descrito como "preto puro" numa sociedade que historicamente fez da cor de pele um marcador de subalternidade e inferioridade faz parte de uma família que ascendeu economicamente. Seus antepassados, certamente forjados na brutalidade da escravidão, conseguiram superar essa barreira, montando um negócio próprio, uma fábrica de móveis. A ascensão econômica da família, que seria motivo de orgulho e inspiração, esconde, no entanto, uma face sombria: a perpetuação da exploração.
A Sofrida Ascensão e o Legado da Exploração
O Brasil, país cuja estrutura social foi calcada em séculos de exploração racial, oferece raras oportunidades de mobilidade ascendente para a população preta. No entanto, quando isso ocorre, como no caso desta família, a ascensão muitas vezes não se traduz em uma consciência crítica. Pelo contrário, pode fomentar uma dinâmica de auto-racismo e assimilação dos valores da elite dominante, uma elite historicamente branca e exploradora.
A fábrica de móveis gerida por essa família, em vez de representar um refúgio de dignidade e respeito, converte-se em um ambiente de exploração brutal, onde a mão de obra é sugada até o limite. O salário pago, ainda que mínimo e "legal", se aproxima do regime de semiescravidão um eco cruel do passado colonial do país. Como o próprio dono afirmou, sem pudor, a seus funcionários: “Você é mais barato que a limpeza da minha piscina, mais barato que a ração dos meus cachorros”.
Essa frase, impregnada de desumanização, não é apenas uma fala isolada. Ela encapsula uma visão de mundo. Este sujeito, preto, que ascendeu em um contexto histórico de opressão, reproduz as mesmas práticas que seus antepassados sofreram. Oprimido, torna-se opressor. Explorador de seus iguais, ele ignora sua herança e adota uma postura que reforça o status quo.
A Dialética do Auto-Racismo e a Aceitação do Racismo Estrutural
Esse tipo de figura revela algo fundamental: a capacidade do racismo estrutural de se enraizar tão profundamente que até mesmo aqueles historicamente oprimidos podem torná-lo parte de sua prática cotidiana. Ao perpetuar as mesmas lógicas de exploração, esse homem preto transforma o racismo em uma prática internalizada e, portanto, autoimposta.
O auto-racismo se manifesta de várias formas. No caso deste presidente do movimento preto, há uma assimilação das práticas elitistas e uma negação de sua própria história de luta. Ele se vê como alguém que "venceu", mas essa vitória é construída às custas de uma exploração sistêmica de sua própria comunidade e classe. A frase “você é mais barato que a limpeza da minha piscina” não é apenas uma expressão de desprezo. É um manifesto da alienação de um homem que se vê como parte da "elite", mas que, na realidade, apenas internalizou os valores de um sistema que sempre o desprezou.
A Crise de Identidade o Falso Sentimento de Elite
Esse homem, ao se posicionar como elite, comete um erro fatal: confunde acúmulo de riqueza com mérito. Ele acredita que, ao ter dinheiro e poder, se torna superior, ignorando que "Elite" verdadeira é formada pelos melhores aqueles que, em uma sociedade justa, alcançam sua posição pelo esforço, mas também pela ética e solidariedade. Ele, no entanto, não é elite. Ele é apenas endinheirado, um sujeito que se apropriou das ferramentas do opressor e perpetua a exploração.
O uso da expressão "você é mais barato que a ração dos meus cachorros" escancara sua desumanização. Ele vê seus funcionários não como pessoas, mas como recursos a serem explorados ao máximo, com o menor custo possível. E isso é especialmente perverso quando lembramos que ele é, supostamente, um líder do movimento preto, alguém que deveria estar na linha de frente da luta contra a exploração e o racismo.
A Hipocrisia de Quem Deveria Lutar Pelo Coletivo
Este artigo revela a complexidade da trajetória de ascensão de um preto em um Brasil profundamente marcado pelo racismo. Ao invés de usar sua posição para promover igualdade e justiça social, este homem escolhe reproduzir as lógicas opressoras. Sua história não é apenas a de um indivíduo, mas um reflexo de como o racismo estrutural pode corromper até mesmo aqueles que deveriam combatê-lo. O auto-racismo é a arma mais poderosa do opressor: transforma a vítima em cúmplice.
Ao final, este sujeito presidente do movimento preto, dono de fábrica, explorador incansável é a personificação de uma tragédia sociológica. Ele é a prova viva de que ascender economicamente não significa necessariamente ascender moralmente ou socialmente.
Albert Ramos
Gostou e podendo colaborar com nosso canal aceitamos qualquer valor $$
Nota do autor: Este texto é uma obra literária de ficção, sem qualquer intenção de atingir ou se referir a indivíduos específicos. A narrativa aqui apresentada deve ser interpretada como uma representação simbólica de questões mais amplas, e não como um retrato personalizado de realidades particulares. Trata-se de uma síntese reflexiva, e não de um ataque pessoal ou julgamento. Qualquer semelhança com fatos ou pessoas é mera coincidência e fruto da liberdade criativa própria da ficção.
Comentários
Postar um comentário
Seja gentil e comente algo que acrescente...Pense!