A Pobreza Invisível

Em algum ponto do caminho, criamos um molde de pobreza que precisa ser rasgada, maltrapilha e, de preferência, acompanhada de um cheiro incômodo. Só assim, a sociedade parece entender: "esse, sim, é pobre". O resto, os que não se encaixam nessa caricatura, ficam no limbo. Estão ali, mas são ignorados, como se não existissem. E se por acaso ousarem declarar sua condição, a resposta vem como um tapa: "Vai trabalhar, vagabundo!". Porque, no imaginário coletivo, qualquer um que não esteja nos extremos da miséria não é digno de ajuda, apenas de desprezo.


É um treinamento diário. Desde cedo, somos ensinados a virar a cara para os problemas que não nos afetam diretamente, a desviar o olhar de quem não se enquadra nos padrões extremos da necessidade. Só o indigente visível merece caridade. Aquele que ainda veste roupas inteiras, mesmo que sejam surradas, ou que mantém uma aparência minimamente digna, esse não é pobre "de verdade". Para ele, temos apenas o desdém e o julgamento.


E assim seguimos, treinados a ignorar uma pobreza silenciosa, uma pobreza que não grita, mas que existe, que permeia as esquinas, os rostos cansados de quem nunca teve uma chance real. São essas pessoas que, sem alarde, sentem o peso de uma sociedade que trata a pobreza como doença contagiosa. O pobre é afastado, marginalizado, como se a simples menção de sua condição pudesse "pegar". “Sai pra lá!”, dizem com o olhar, com a indiferença, com a ausência de oportunidades.


A pobreza no Brasil não é só uma questão de falta de dinheiro. Ela é um estigma. A pessoa que declara sua necessidade não encontra apoio; encontra afastamento. As portas se fecham, as oportunidades evaporam. Ninguém quer por perto aquele que faz lembrar que a estrutura social não funciona, que o sistema falhou. Por isso, a pobreza no Brasil se esconde. Não porque quer, mas porque precisa. Afinal, quem ousa mostrar sua vulnerabilidade é imediatamente descartado.


É a pobreza que não aparece nos jornais, não choca as campanhas de caridade, não é tema de mesa de bar. É a pobreza que finge não existir, que anda ao nosso lado, mas que é invisível. Porque nós, treinados como somos, escolhemos ignorá-la.



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